segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

outro dia

Outro dia era 2012. Outro dia fizemos nossa ultima viagem pra Londres. Outro dia a Domi conheceu o Martin. Outro dia tomou aquele porre de tequila e eu tive que jogar no chuveiro frio com roupa e tudo. Outro dia tivemos aquela briga horrível entre o Natal e o Réveillon e a Ma voltou brava pra Inglaterra. Outro dia era noite de Ano Novo em Lyon e comemos 12 chocolatinhos exatamente meia noite do dia 31 pra dar sorte, sabe. Já que não tínhamos uvas. Coisa de equatoriano. 10 minutos depois fomos atacados por um grupo de árabes bêbados e voltamos meio assustados, meio desapontados pro ap das Jaramillo. Terminamos a noite numa festa estranha com gente esquisita tomando shots húngaros e aprendendo dança do ventre. Outro dia nevou muito, muito mesmo. Nevou tanto que a gente encheu o saco de neve. Outro dia era fevereiro e eu tinha que ir embora. Tive minha festinha de despedida e depois outra, bem mais louca. E depois outra, mais privada e mais louca ainda. Outro dia já era dia 13 e a Domi desistiu de ir ver o Martin pra me levar na rodoviária. Outro dia deixei alguns pedacinhos do meu coração em Northampton. 
Outro dia aterrissei em Madrid, cheia de medo e expectativa. A imigração não queria me deixar entrar, imagina. Outro dia cheguei na Avenida Pi y Margall, 7 e o quarto da Domi virou meu quarto. Outro dia estava triste em Madrid. Outro dia saí de fiesta e me roubaram tudo. Passaporte, iphone, cartão do metro, cartão de credito, as luvas que a Sasa esqueceu no KP, meu batom vermelho e a bolsa que comprei por 5 pounds numa sale da New Look. Putos. Outro dia conheci a Ma e o Re. "una cerveza, porfa", bike no Retiro, 100 Montaditos. O Ez, a Emily e a Ada. Vinho barato e comemos Baby Bell no Retiro, aproveitando as tardes de primavera. Me tornei exímia conhecedora da noite madrileña e dançarina de reggaeton. Ou quase. Porque outro dia a Dipi veio me visitar e acabamos numa balada gay por engano. Dançamos Beyonce e Shakira a noite toda. Uma típica girls night. Outro dia disse tchau pra Tere e Domi no aeroporto e entrei no avião. Outro dia deixei mais alguns pedacinhos do meu coração em Madrid. A saudade dói ainda. 
Outro dia cheguei no Brasil e meus amigos me esperaram vestidos com perucas afro. O aeroporto parou. Fui na praia, comi feijão. 
Outro dia estava triste de novo. 
Outro dia chegou a Lore. Cupcake de aniversario, uma garrafa de vodka e 10 da noite todo mundo dormindo. Outro dia Lore apaixonada, "he's coming to see me!". Virei guia turística. Fomos pra Búzios e conhecemos a Sarah. Ilha Grande com o Matheus. Outro dia muita praia, muito por do sol no Arpoador, muita mureta da Urca, muito chopp e muito mate com limão. Outro dia uma noite carioca de reggaeton com a Bruna. Outro dia os roommates da Lore que discutem as raízes do preconceito racial no Brasil, a desigualdade social, as consequências do machismo na sociedade e que meia hora depois te fazem a piada mais ridícula do mundo. Outro dia jantarzinho italiano e 1kg de Nutella. Outro dia café da manhã no Parque Lage porque passei no vestibular. Outro dia Lore triste. Me liga. Corro pra ir ver. Terminou, só esqueceu de desapaixonar. Outro dia terminou as provas, superou o fim, deu uma festa. Outro dia tomou aquele porre de vodka e eu tive que jogar no chuveiro frio com roupa e tudo. Perdeu a festa. Perdemos a festa. 

Outro dia 3 de dezembro. Alguém tira o mundo do rápido?




E agora sim, uma pequena amostra do meu cérebro. Essa porcaria toda tava girando na minha mente entre casa e trabalho. Agora não tá mais.
(Esse post tava legal pra caramba. Tinha até um parentese explicativo bem no meio com algumas reflexões bacanas sobre como escrever tinha voltado a ser, pra mim, uma maneira de simplesmente traduzir minha mente em palavras, desafogando, de maneira leve e não muito planejada, faltando excelência literária, mas transbordando eu. 
Mas veja bem, escrever pelo app do blogguer no celular pode até ser conveniente pelas madrugadas da vida, mas não tem auto save. Paciencia. Na verdade tô até meio orgulhosa de mim mesma. Algum tempo atras, se tivesse perdido um texto daquele tamanhão não voltaria a escrever por dias, de tão brava. Mas aqui estou. Exalando desapego. Vamos à segunda versão do post.)

A vida é uma caixinha de surpresas meio escrota que coloca pessoas maravilhosas no nosso caminho e depois, gritando AHA! e apontando o dedo em riste nossa sua cara, nos faz sentir completos otários por se apegar tanto a pessoas que moram longe pra caralho.

Amizade de intercambista não é fácil. Tem mesmo suas dores e delícias. E, como morar no Kings Park é ter praticamente uma despedida dolorosa por mês, achei que quando finalmente chegasse a minha vez, em fevereiro, já fosse estar calejada. Doce engano. 


Tinha muito mais. Mas parei esse post eventualmente na vida e ele ficou incompleto. Tô publicando por motivos de: porque sim. Não quero mais nada encalhado na vida e vida inclui blog.

sábado, 14 de setembro de 2013

Eus

Tenho duas Marianas morando na minha cabeça. A perfeita personificação da minha consciência. Uma é centrada, sensata, coerente, responsável e altruísta. A outra é ciumenta, paranóica, ansiosa, aprecia shots de tequila e gosta de chorar até entupir o nariz. E obviamente, é uma idiota. As duas tem altas discussões, às vezes se misturam, mas, o importante é que juntando tudo dá eu.

Quando ansiosa, tenho uns sintomas meio estranhos. Fico enjoada como se estivesse em uma roda gigante eterna amarrada de cabeça pra baixo e perco completamente o apetite. E quem me conhece de perto sabe que pra mim, comer é sempre uma boa ideia a qualquer hora. Pois é só bater a ansiedade que bye bye fome.

Dia desses, numa dessas crises de ansiedade, fui notar lá pelas cinco da tarde que não tinha comido nada o dia todo.
"Tenho que comer", pensei. Ou melhor, falou uma das Marianas.
"Mas eu nem tô com fome. E olha só, tô emagrecendo. Perdendo o que ganhei quando cheguei de Madrid."
"Hmmm, pois é, pelo menos essa ansiedade tem um lado positivo."
"Meus jeans vão ficar perfeitos novamente."
"Verdade! Mas peraí, ficar sem comer e achar isso uma coisa positiva é meio perigoso."
"Né nada, magina."
"Eu tenho certeza absoluta que é assim que começa a anorexia."
"Eu tô sem comer faz UM dia. Acho que anorexia é um pouquinho mais grave que isso, não?"
"Não quero provar pra ver. Bora comer. Agora."

E fui almoçar sem fome.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

4 meses, dois dias e muitas lágrimas

Tristeza é uma coisa engraçada. Parece que ela libera todos os sentimentos bosta que você vem guardando bem guardadinho beeeem lá dentro. Daí fica triste e puf, sai tudo. O cérebro dá sinal verde. Já estamos na bad mesmo, toma aí um pouquinho de paranoia, vamos zuar a auto estima e, porque não, vamos ficar idiotas. Idiotas mesmo, sabe?, meio burrinhos.
Veja bem, faz quatro meses que voltei de Madrid. Achei que seria bem pior, mas na verdade, with a little help of my friends, foi até bem tranquilo. Mas agora, porque estou triste, dei pra morrer de saudades de lá. 

Na minha última semana antes de voltar ao Brasil, a Domi veio da Inglaterra para nos despedirmos (pela segunda vez, soooofre) e, na quinta, um dia antes do meu voo, salimos de fiesta com o Ezequiel, um amigo querido que fiz logo que cheguei. Fomos à Cats, uma boate animadinha perto de Guzman el Bueno que compensava a localização um pouco mais longe do centro com o ambiente bacana, musica boa e, bom, era open bar. Pra falar a verdade não me lembro muito daquela noite por motivos de: novamente, open bar. Em algum momento, de depois de muitas vodka con fanta, porfa resolvemos ir embora. Eu tinha que estar no aeroporto às 9 da manhã e tínhamos prometido à Tere, mãe da Domi e hostmom mais amada e linda que eu poderia ter na vida que chegaríamos antes de amanhecer, pra não ter nem o mínimo risco de atraso pro meu voo.

Não vou explicar exatamente como funciona o sistema de transporte de Madrid, apenas que funciona muito bem obrigada. Eu sempre voltava às 4, 5, 6h da manhã sozinha e me sentia super segura. Enfim, teríamos que pegar um ônibus até a Plaza de Cibeles, onde durante a madrugada funciona o terminal de ônibus noturnos. Por algum motivo de que eu não me lembro (open bar) acabamos pegando um taxi, extravagancia das extravagancias das minhas noites em Madrid. Primeiro porque ain't nobody got money for that e segundo porque realmente não era necessário. Chegamos, paguei a corrida e, antes de pegar o ônibus resolvi que precisava fazer xixi. Aqui. Agora. Puxei o Ezequiel pelo braço (já que a Domi é uma inútil com sono) e fomos caçar um lugar, ali na rua mesmo. Entramos na parte gramada de um prédio e, depois de despistar o guardinha, notamos que a grama estava completamente encharcada. Minhas sapatilhas e meia calça pretas ficaram lama pura.

Xixi feito, despedida meio bêbada, o Ez foi embora e eu fiquei com a Domi esperando o ônibus. Tinha acabado de sair um, o que significa que teríamos que esperar mais uma hora. Entramos num taxi. Pero señor, solo tenemos 20 euros para llegar a la casa! Vale vale, no pasa nada. Morremos ao entrar no carro. O cara poderia ter nos assassinado e sumido com os corpos, mas ele foi bonzinho, nos acordou exatamente no portão do nosso prédio. Subimos e desmaiamos por mais duas horas, até a hora de ir ao aeroporto. Meu quase-não-embarque foi uma novela que fica pra outra hora.
Ao chegar em casa e desfazer as malas, notei que a Tere tinha colocado minhas sapatilhas enlameadas numa sacola e enfiado na mala. Deixei na área de serviço aqui de casa para serem limpas e acabei esquecendo delas.

E, bom, esse texto imenso é apenas pra falar que hoje, 4 meses e 2 dias depois de chegar, encontrei as sapatilhas esquecidas ainda sujas num buraco qualquer e chorei lavando a lama-da-minha-ultima-noite-de-balada-em-Madrid e da minha ultima-noite-de-balada-com-a-Domi. Eu, um balde com OMO e muitas lágrimas.

Tristeza deixa a gente idiota.

sábado, 17 de março de 2012

arriving I

27 de dezembro, numa madrugada quente, eu estava sentada na minha cama, no meu quarto, na total escuridão tentando espiar o que o futuro me reservava.
Hoje, exatamente 82 dias depois, a situação se repete. A diferença é que agora faz 3 graus lá fora e meu quarto novo fica há quase 9.500 km de Niterói.
Até agora eu não tenho do que reclamar, sabe. A vida tem sido muito gentil comigo colocando pessoas tão bacanas no meu caminho.
Se há 82 dias eu me perguntava quando que eu iria surtar, fiquei sem resposta até hoje. Eu, que sou eufórica por natureza, nunca me senti tão tranquila. Entrei no avião como quem entra num ônibus pro centro da cidade. No big deal. Quando pousei em Londres, a única coisa que pensei foi: cinza. Juro que achava que ia pirar, surtar, me emocionar, ver um filme da minha vida passando pela minha cabeça... nada. Pra falar a verdade não gostei de aterrissar assim não, sabe. Queria emoção, palpitação, coração pulando e lagriminha no canto do olho. Sonho da minha vida, po. Tudo que eu senti foi uma espécie de entorpecimento (que dura um pouquinho até hoje) e medo, não do que me esperava, mas de ser mandada de volta pra casa pela imigração.
Pegamos o metrô dentro do aeroporto mesmo, eu e minhas duas malas pesadíssimas, pro centro de Londres, onde encontrei uma amiga da minha mãe que já mora por lá há bastante tempo. Fiquei impressionada com a quantidade de linhas e a área da cidade que o metrô cobre (sou menina de busão gente, não tem metrô em Niterói). Assim que desci na estação, o coração começou a, finalmente, esquentar. Descobri que falam tanto da gentileza britânica com razão, a cada lance escadas que eu me deparava, aparecia alguém pra me ajudar a subir/descer as malas. As pessoas até são gentis no Rio, mas aqui a coisa é num grau totalmente diferente.
A minha primeira impressão de Londres (o centrão mesmo) não foi das melhores. Não nos demos bem logo de cara. Achei uma cidade triste, meio sombria até. Passamos de ônibus (aquele mesmo, de 2 andares!) por alguns dos lugares mais famosos: Abadia de Westminster, o palácio, o Parlamento e o Big Ben. Novamente, no big deal. Quando começou a escurecer me bateu um desespero: eu não entendia como algum dia eu já tinha desejado morar naquela cidade estranha. Passamos pelas ruas e as casas pareciam vazias, inabitadas. Não vi uma luzinha nas janelas. Eu definitivamente não tinha curtido Londres.
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